Por Tércio Solano, jornalista, de Recife.

Hoje, 18 de fevereiro, recorda dez anos atrás quando eu, Tércio Solano, e Jaime Linz, éramos recebidos carinhosamente pelo ilustre empresário Vicente de Paulo Correia, ou simplesmente, seu Vicente Correia, para uma entrevista a ser citada no livro “Parnaíba na História da Aviação”. Vicente Correia, era um exemplo dos valores da terra. Homem simples e sem luxo, com mais de 50 anos de trabalho prestado ao serviço de agente de viagem. Hoje já falecido aos 83 anos, viveu uma vida dedicada á área de turismo.

Apesar da sua humildade, o parnaibano Vicente Correia, no entanto, quase ninguém sabe, era  conhecido nacionalmente como um dos pioneiros no setor turístico do Estado do Piauí. Isso mesmo, o primeiro, à atender esse mercado no estado.

E como prova de honra ao mérito era detentor de um certificado que lhe foi outorgado em 1985, pela ABAV – Associação Brasileira de Agências de Viagens do Estado do Piauí, na categoria de Agente de Viagem sob o nº 001. E não pára por aí, quando a Varig  suspendeu suas operações em Parnaíba, nos anos 70, o senhor Vicente Correia, como conceituado representante dessa companhia aérea, na região, havia conquistado uma grande clientela há mais de duas décadas. E, não podia perdê-las, nem tampouco ficar desempregado.

Mudou sua estratégia para superar a crise. Sendo ele um homem de visão empresarial e de vasto conhecimento e acima de tudo, sempre soube comandar uma boa equipe,  não perdeu tempo. Lançou diante mão, um serviço receptivo, exclusivamente para o transporte de seus clientes, composto por um ônibus fretado para fazer a ligação direta entre Parnaíba e o Aeroporto de Teresina.

O veículo utilizado era um ônibus da extinta empresa Marimba, semelhante aos utilizados em viagens de turismo, mas modificado para melhor comodidade e conforto aos passageiros.

De acordo com a demanda do novo serviço, podia ser acrescidos mais ônibus similares, Vicente Correia, foi fundador e diretor da Atalaia Turismo Ltda em Parnaíba.

Breve história sobre ele

No dia 16 dezembro de 1970, o Electra II, possante quadrimotor para transportar entre 85 a 90 passageiros, surgia no céu de Parnaíba, onde passaria a escalar semanalmente, para explorar o turismo na região, substituindo  o DC-3, e o Avro 748.  A introdução do Electra II em Parnaíba, a principio tornou-se um fato curioso.

Tudo sobre este assunto provavelmente jamais seria levado a público, se não fosse á me repassado pelo próprio Vicente Correia. A título de registro, cabe citar o que realmente se passou, e foi assim que ocorreu. Na primeira metade dos anos  de 1970, o  parnaibano, então Ministro do Planejamento, João Paulo dos Reis Veloso, fez um convite ao presidente da Varig, Eric de Carvalho, para um passeio ao delta do Parnaíba.

Na ocasião da visita, acompanhado pelo dr. Alberto Silva, na época governador do Estado do Piauí, do prefeito de Parnaíba João Silva Filho, do ministro Reis Veloso, Eric de Carvalho disse em poucas palavras, do interesse da Varig voltar a operar em Parnaíba. Inicialmente, a proposta seria introduzir na rota, aeronaves tracionadas por quadrimotores turboélices, a exemplo do Electra II, com capacidade para transportar 85 a 90 passageiros.

No entanto, para que esse equipamento viesse entrar em operação comercial nesta cidade, teria de atender aos requisitos exigidos por lei, e algumas condições gaúcha. Embora o Aeroporto de Parnaíba na época, já possuindo o certificado de homologação expedido pelo extinto Departamento de Aviação Civil – DAC, hoje ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil, adequado para operação de aviões de grande porte como o Electra II.

Nada mais que natural à empresa operadora fazer uma inspeção técnica da pista principal, assim como do pátio de manobra de aeronaves.

Portanto, certo dia um dos diretores da Varig, Afrânio Sales de Oliveira enviou um telex para Vicente Correia, comunicando que estaria enviando um engenheiro da companhia para inspecionar a pista do Aeroporto de Parnaíba.

Dias depois, quando o engenheiro chegou disse a Vicente Correia, que não era preciso nem olhar para sua agência, pois ele tinha um prestígio muito grande diante da Varig, pela sua organização. Tudo ali, funcionava dentro da ordem. Porém, agora, tem um detalhe importante, enfatizou o engenheiro.

Era preciso verificar as condições  aeroportuária. Tudo bem, disse Vicente Correia. Colocou então o engenheiro dentro do seu carro, e seguiram para o aeroporto.

Quando lá chegaram, pediram permissão ao Destacamento da FAB e explicaram que iriam inspecionar a pista. Após percorrerem e inspecionarem toda área do aeródromo, o engenheiro verificou que havia milhares de pedrinhas, sobre toda a pista de pouso e decolagem, o que poderia provocar a derrapagem dos aviões. Então disse o

engenheiro, sr. Vicente o jeito que tem é varrer toda a pista. Vicente Correia respondeu.  É só isso ?

Vamos varrer.

Vou providenciar agora mesmo. ..Telefonou para o prefeito João Silva Filho e contou a história. Por sua vez, João Silva logo providenciou 100 homens para executarem o trabalho. Depois da inspeção da pista, foi constatado também, a falha no acesso ao pátio de estacionamento de aeronaves. (intercessão) O mesmo era estreito demais para a taxiagem do Electra.

Portanto, além de limpar toda a área geométrica da pista de pouso, teriam depois, que alargar dez metros em cada lado do acesso ao pátio. Exigências estas, a fim de evitar que os quatro motores do grande avião, e suas enormes envergaduras de 30 metros de largura sugassem entulhos da vegetação rasteira ali existente. Em resposta as exigências da diretoria da Varig, e o interesse despertado pela nova escala, fizeram com que tanto o prefeito João Silva Filho, como o empresário Vicente Correia, numa rápida decisão executassem os serviços.

100 homens.

Para o andamento dos trabalhos sair em pouco tempo, aproximadamente 100 homens, deram início as atividades. Tendo em vista autorização do prefeito, a missão era, portanto varrer, o mais rápido possível toda extensão da pista, e serem retiradas às milhares de pedrinhas espalhadas ao longo do asfalto. Enquanto os homens cumpriam a tarefa, seu Vicente e o engenheiro da Varig foram dar um passeio pela orla marítima, ao mesmo tempo, saborear um gostoso pescado da região.

Já de tardezinha, de retorno da praia, deram uma passadinha no aeroporto, e constataram que os trabalhos de limpeza da pista estavam realmente concluídos. “Tratou-se de uma jornada de trabalho, muito ágil e eficiente, disse o engenheiro da Varig”.

Dias depois, foi à vez da conclusão do alargamento de acesso ao pátio de aeronaves. Depois dessa obra, o engenheiro verificou que tudo em breve ficaria concluído. Dessa forma, com os serviços de limpeza da pista e o acesso mais largo, agora estava sanado o problema, e a real possibilidade que permitiria com segurança e sem restrições, a operação dos grandes aviões realizarem o balizamento.

Um Mês depois, o voo inaugural do majestoso quadrimotor Electra II, foi realizado pela aeronave prefixo PP-VJN, comandada pelo experiente piloto Valdecir. Ao ser criada a nova escala do Electra II em Parnaíba, a cidade passava a ligar: São Paulo, Rio, Brasília, Teresina, Belém, Santarém, São Luís, Parnaíba, Fortaleza, Recife, Maceió, Aracajú, Salvador, seguindo viagem para o Sul, uma vez por semana.

Apesar do Electra ter sido um avião extremamente apreciado pelo povo parnaibano, seis anos depois, chegava o fim de sua operação regular nessa linha. Depois foi a vez do Boeing 737 encantar os parnaibanos.

No dia 20 de maio de 1976, a Varig colocava a disposição os  Boeing 737, equipamento de primeira linha. Essa decisão demonstrava o fim das limitações operacionais do então “Santos Dumont” no Catanduvas.

Mas pouco tempo depois, a Varig não havia obtido um bom índice de aproveitamento, abandonando definitivamente a rota.

Um detalhe. O Electra II, foi o avião que durante muitos anos voou na ponte aérea Rio São/São Paulo.

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