relógio

Chego as 08:10 devido ao trânsito ruim

As 09:14 preciso urgentemente ir ao banheiro

As 10:45 vou encher a garrafa d’água

Cada saída dessas me rende um valoroso desconto no contracheque

Tenho 23 anos e não sou servidora pública

Além de exercer funções mecânicas

Devo satisfações pessoais à supervisão para sobreviver

Aqui ninguém tem privacidade higiênica

Ou é digno de confiança

Estou suficientemente farta,

Mas a fatura do cartão de crédito

Faz-me lembrar o quanto estou presa

Então as 12:00h pego a bolsa e vou embora

Retorno logo mais as 14:00h

Dessa vez bastante pontual

Espalhando meu boa tarde

Antes que desconfiem desse poema

E me mandem à puta que me pariu

A medida punitiva contra quem ousa desajuizar-se

Nesses tempos em que é preciso

Ter um carro, aparelhos tecnológicos,

Boa casa e estar bem vestido para flagrar-se

Virtualmente a cada 20 minutos

Por estas bandas não há quem possua vileza

Ou sonho atômico

Ninguém aciona bandeiras suicidas

Na pior das hipóteses, sofro sozinha, é verdade,

Mas desconfio que levo uma parcela de líricos

Na fundura dos olhos

A partir do momento em que

Encaro estes versos como a única renúncia

Do que não vivo depois das 18:00h.

VANESSA TEODORO TRAJANO

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