Por Tércio Solano – De Recife
Fotos de Adailton Lima Carvalho – Caetité Bahia e Album de família
“Um Poeta Fenomenal” – O cantor e compositor, Waldick Soriano, foi sem dúvida, um artista de uma veia poética, com sua voz inimitável soube conquistar os corações sensíveis, transformando o sentimento em romantismo, e a música em poesia.
Assim, de maneira inconfundível, ele interpretava para melhor poder expressar todos versos de suas letras, e a singeleza de suas melodias. Para ele, no prefácio de suas interpretações, sempre buscava traduzir a música em versão poética. Para ele, suas músicas, em tom de poesia, não só enobrecia o coração humano, como também restabelecia na alma uma radiante e inesquecível sentimento. Por isso, eis a razão que sempre o tratei, e continuarei tratando esse artista como “Poeta Fenomenal”
Surge um astro
Sua personagem artística, surgiu justamente no começo da década de 1960, ocasião em que a juventude brasileira, curtia a música norte americana através de Elvis Presley, Nei Sedaka, Paul Anka e outros como os ingleses “The Beatles” e “Rollings Stones”. No Brasil despontavam Carlos Gonzaga, Sérgio Murilo, Celly Campelo e Roberto Carlos, assim como Orlando Dias que encantavam os corações românticos de todo o País.
Mas Waldick não se intimidou. A vida lhe reservava muitas surpresas.
Continuou cantando, mostrando seu talento, sua inconfundível voz, sua maneira diferente de cantar.
Depois de gravar seu primeiro disco pela etiqueta Chantecler em 1960 – “Quem és tu”, e em 1961 “Tortura de Amor”, composição do próprio cantor, a melodia foi tão expressiva, que estourou nas paradas de sucessos, tendo repercussão no exterior, a ponto de ser regravada em Paris, fazendo enorme sucesso. Waldick Soriano, segundo a crítica especializada, era considerado um artista completo: Cantor, compositor, músico e arranjador, aliás, do seu repertório, oitenta por cento das composições eram de sua própria autoria.
Por esse motivo, foi considerado um verdadeiro intérprete do anseio popular.
Através de Jaime Linz
Tive o prazer de conhecer primeiramente o cantor Waldick Soriano num voo de Recife a Fortaleza, a bordo de um avião comercial no inverno de 1982. Depois conheci o amigo. Mas, que amigo? Waldick, é claro!
Ainda me lembro, tão logo embarquei, na aeronave da extinta Transbrasil, acomodei-me numa fileira de poltronas ao lado daquele artista de chapéu preto terno e óculo escuro. Vinte minutos depois o aparelho decola em meio a uma chuva pesada.
Recordo-me de uma senhora que viajava ao nosso lado com uma filha de uns 10 anos, sob um nervosismo próximo ao medo.
O avião saiu á noite. Durante a viagem, o cantor passou a conversar com aquela senhora. Ao perguntar-lhe se estava preocupada com o mau tempo em que o avião enfrentava, respondeu que não.
Depois, virou-se pra mim e perguntou:
“ – E você ai rapaz, com esses fones nos ouvidos, é um disfarce ou está curtindo um som?”
“ – Claro que estou curtindo um som”. Por mera coincidência eu estava ouvindo suas belas músicas.
Isso propiciou-me passe livre para conhecer pessoalmente o cantor. Retirei os fones dos meus ouvidos e permiti que ele usasse.
Ao ouvir a bela melodia “Perfume de Gardênia”, de sua interpretação, surpreendeu-se e disse:
“ – Realmente você tem um bom gosto”.
“ – Podemos conversar?”
Com sua voz típica e pausada, me faz algumas perguntas, sobre música. Não satisfeito, perguntou:
“ – Você reside em Recife?” – Respondi que sim.
“ -Sou jornalista e tenho um irmão no Piauí que é radialista, e toca bastante as suas gravações em seu programa na Rádio Educadora de Parnaíba, no norte do Piauí.
Ele então perguntou quem é?
“ – Pois em Parnaíba, eu tenho muitos amigos.
Respondi-lhe:
“ – Meu irmão chama-se Jaime Linz”. Então ele respondeu:
“ – O Jota é um amigão, só não gosta de tomar umas. Ele é evangélico”, e um excelente profissional.
A partir daquela ocasião, tornamos- nos grandes amigos.
Já era tarde da noite, o tempo se preparava para fechar e chegamos em Fortaleza, pouco antes do mau tempo.
Ao descer, despedimo-nos e Waldick continuou viagem para Belém.
Programa em homenagem
Programa “O Cantinho do Waldick”.
Uma das sequências do programa “Jaime Linz”, com grande índice de audiência, indo ao ar todos os sábados às 19 horas transmitido e apresentado pelo comunicador J. Linz.
Criado em 1986, pelo próprio radialista com ideia do cantor, o programa que tinha a sequência do gênero, teve início através da Rádio Educadora de Parnaíba, no Estado do Piauí, depois Rádio Igaraçú AM, e por último na Rádio Atlântico FM – On Line.
Esta sequência musical tocava exclusivamente as belas melodias do cantor e compositor por duas razões: Primeiro porque era muito querido pelo público da região; dono de um repertório inconfundível e uma bela voz. Segundo, porque sempre havia uma consideração e respeito entre o comunicador Jaime Linz e o artista. Waldick e J. Linz eram grandes amigos.
O cantor não escondia o carinho especial que sentia pelo programa “O Cantinho do Waldick”.
Prova disso, quando ele chegava em Parnaíba, ao invés de ir direto ao hotel, seguia em direção à casa do comunicador a fim de saber como estava o programa “Cantinho do Waldick”.
No início dos anos 90, quando Waldick ainda residia na Ilha do Governador, vez por outra, participava do programa ao vivo pelo telefone direto de sua mansão, ficando por mais de quarenta minutos no ar, batendo papo com o apresentador “Jota”, como costuma chamá-lo.
Nesse bate papo, o cantor trazia comentários, puxava diversos assuntos, um dos quais que mais argumentava era a conjuntura política e econômica do país.
Numa de suas entrevistas, citou que em Pernambuco havia recebido um convite para o lançarem a candidato a deputado estadual.
Waldick não aceitou alegando ter nascido para ser cantor e não político.
Jamais concordou os chamados para militância política, pois achava que nunca poderia conciliar sua condição de artista independente, exercendo atividades paralelas.
Logo depois da descontraída entrevista, os telefones desta emissora não paravam de tocar. Eram os ouvintes do Programa Jaime Linz, dentro da sequência “ O Cantinho do Waldick”, parabenizando a participação do cantor ao vivo, enaltecendo o Programa. Todas as gravações das entrevistas, estão arquivadas em fitas magnéticas K7 no estúdio do radialista Jaime Linz. Além das fitas, o J. Linz conservava todo o acervo discográfico, em grande parte cedido gentilmente pelo próprio cantor.
Em ocasiões quando o artista encontrava-se de passagem por Recife, em compromisso de shows, costumava entregar encomendas de discos ao Tércio (eu mesmo), para serem entregues ao Jaime Linz, em Parnaíba.
Hoje, o acervo citado acima denominado “Jaime Linz Produções”, está guardado em seu estúdio e quem o preserva é dona Emilia, esposa do saudoso radialista Jaime Linz, falecido há três anos.
Sua infância e suas origens
Depois da morte de Waldick Soriano, não tardei ficar sabendo que, segundo o nobre “Dicionário das Famílias Brasileiras” – volume II, dos autores Carlos Eduardo de Almeida Barata e Antônio Henrique da Cunha Bueno, o nome “Soriano” pelo ponto de vista, que entendi, faz parte de uma ilustre família de origem européia, estabelecida no Brasil, no século passado.
Embora essa não seja uma razão pela qual me interessei a escrever sobre ele, mas permitam começar mesmo pelo popular Eurico, Orico ou Eurípedes para chegar a Waldick Soriano.
Isso quer dizer que não foi por acaso que o bom baiano, apesar da sua humildade, tenha nascido sob o valente signo de touro, no alvorecer do dia 13 de maio de 1933, no pacato lugarejo e antigo centro minerador, Brejinho das Ametistas, distrito 27 quilômetros de Caetité, no sertão da Bahia, próximo a Minas Gerais.
Nesse dia, o clarinetista da banda de música local, e negociante de pedras preciosas, seu pai Manoel Sebastião Soriano, mais conhecido por Tião Soriano e sua mãe, Eudóxia Evangelista Garcia, celebraram o nascimento do seu segundo filho, dizendo:
“ – Alegremos -nos, nesse dia foi concebido um homem”.
Era o dia da extinção da escravatura no Brasil, e talvez, em homenagem ao valor de Eurípedes, o último dos três grandes autores trágicos de Antenas, que foi reconhecido pelos seus manuscritos musicais, veio então á sugestão para batizá-lo de Eurípedes Waldick Soriano.
Naquele pequeno arraial, encravado no coração do interior baiano, Waldick viveu sua infância, adolescência e o despertar de sua mocidade. Cresceu, sem ter conforto familiar, devido às dificuldades financeiras. Logo nos primeiros anos de vida veio a dura realidade”.
Assim, dessa forma foi criado” relatava Waldick, vez por outra, em conversas informais entre amigos, de forma bem simples.
Décadas depois, aquele mesmo menino, filho de seu Tião Soriano, agora consagrado cantor e no auge do sucesso, em muitas ocasiões, ao curtir “Saudades da terra natal”, sentado diante de uma mesa de bar ou restaurante, costumava relembrar os dias de outrora que o levava a derramar lágrimas. Ainda dos tempos de criança, guardava muitas recordações, uma imagem das quais ficaria gravada em sua memória para sempre…A de sua mãe.
. Pois bem, caros leitores, aqui faço uma interrupção no que venho escrevendo a respeito de Waldick Soriano. Essa pausa é para dizer que os assuntos aqui citados, foram colhidos em “bate papos” com o cantor ao longo dos anos em Recife, ou na sua casa na praia do Janga, em Paulista zona norte de Pernambuco.
Tais conversas e bate papos geralmente ocorriam nos dias em que não haviam shows na agenda do cantor. Aliás, se fosse para relatar todos os assuntos seriam necessário dezenas de páginas.
“-Certo dia ele disse,Tércio, acabei de receber meu primeiro telefone celular móvel com operadora 085 do Ceará, e me deu o número, cujo mesmo ainda tenho guardado em minha agenda. É óbvio que esse número hoje encontra-se desativado. Era seu primeiro telefone celular adquirido no nordeste. Segundo o artista, poucos tinham o número desse aparelho. Claro que ele não poderia expor a qualquer um.
Waldick, apesar de não ter uma formação universitária, era um memorialista, e sentia-se a vontade ao falar os mínimos detalhes da experiência que teve desde a infância, ao superar os mais árduos caminhos percorridos, antes de projetar-se no cenário artístico nacional.
Eurípedes teve uma infância comum, igual a todas as crianças de sua idade, e ninguém iria supor que aquele menino simples e humilde se tornaria num artista de uma carreira invejável e pontilhada de grandes sacrifícios e perseverança, mas que, afinal, foi compensada pelo sucesso. Diríamos aquela mesma criança, que se faltasse às aulas ou não cumprisse com o dever de casa, levava meia dúzia de palmatórias, de Dona Célia Arruda, sua primeira professora. Mesmo assim, sabia que tudo era para aprender a obedecer e respeitar. Esses foi um dos motivos de ter vencido na vida. As vezes argumentava:
“ – Foram tempos maravilhosos aqueles”, recordava…
“ -O chamado aos gritos da sua primeira professora, Dona Célia, pessoa bondosa, educada com seus alunos, a quem primeiro lhe ensinou a escrever.
Eurípedes já era um adolescente que apresentava um grau de inteligência diferente dos demais do seu lugarejo.
Lá pelos seus 14 ou 15 anos, já dominava perfeitamente seu inseparável acordeom, mais conhecido no nordeste, como sanfona. Instrumento de fole, que aprendera a tocar aos sete anos, quando ganhou seu primeiro “pé de bode” (sanfona de dois baixos). Do “pé de bode” passou ao cavaquinho, depois ao violão.
. Não demorou para Eurípedes e seu pai senhor Tião Soriano mudassem para Caetité, passando a morar na pensão do seu velho amigo, Sr. Chico de Arcuso, na Praça da Catedral.
Tinha completado 17 anos e com uma personalidade firme, teve sobre si o desejo de frequentar as rodas boêmias. Era do signo de touro, sempre acreditando em seus sonhos gostava de puxar o fole e dedilhar sua sanfona.
Ao despertar de sua mocidade, deixou de lado os trabalhos da roça e da fazenda e comprou um acordeom iniciando uma nova vida. Foi ali, em contato com aquele povo simples e humilde que valoriza suas próprias origens, que Eurípedes decidiu, de uma vez por toda, abandonar a enxada e o gado, dedicando-se inteiramente à música. Passou a andar nos bares e festas nos bairros de Caetité.
Eurico não deixava de lado seus velhos amigos como Clemente Ferreira de Castro e Seu Boneco, hoje aos 94 anos. Eram os que mais lhe compreendia e respeitava.
Haviam outros amigos: Os irmãos Cori, Verinha e Israel, Joaquizinho, Baixinho, Yoyô e seus irmãos, Zé Vanderlino, Tião Pé Duro, Antônio Bento e outros apreciadores do aguardente regional. Todos eram garimpeiros de ametistas.
Era um privilégio, ele com pouca idade, levar nas costas sua nova ferramenta de trabalho: A sanfona de 8 baixos. Isto seria o bastante para torná-lo de uma vez por toda, independente.
Imagem viva do antigo casarão
Quem visita e percorre o centro do distrito de Brejinho das Ametistas, tem a oportunidade de conhecer o imponente casarão no estilo colonial, do século passado. Este antigo casario, com oito portas de duas bandas e cinco janelas, já pertenceu ao pai de Waldick Soriano, Sr. Manoel Sebastião Soriano, mais conhecido na região por “Tião Soriano. Alias, segundo informações de Caetité, esse casario, ainda pertence a família Soriano.
Nesta enorme casa onde atualmente funciona como “casa do garimpo”, antigamente era as instalações de uma loja e armazém. Nos tempos anteriores, costumava-se em um só lugar, reunir os mais diversos seguimentos comerciais, uma espécie de entreposto. Por esse motivo, o Sr. Tião Soriano, também possuía um estabelecimento para negócios de pedras (ametistas).
Quando esses comerciantes formavam lotes do produto mineral levavam-nos para Belo Horizonte onde, na capital mineira, eram vendidos aos compradores de pedras preciosas. Para Waldick, aquele imenso casarão era, acima de tudo, a imagem viva dos melhores anos de sua vida, quando criança.
Ao recordar o movimento constante dos vendedores de ametistas brutas, no estabelecimento do seu pai.
“ – Era verdadeiramente a imagem viva do seu Seu Tião Soriano” – recordava Waldick.
Em virtude de sua memorável infância ao lado do seu pai, lá em Brejinho das Ametistas, é que sempre preservou essa imagem viva e inapagável.
Prova disso, quando já consagrado artista nos anos 70, quando em viajem pelo interior do Paraná em Centenária do Sul, cidade de sua esposa Sra. Walda, durante uma apresentação recebeu um telefonema, comunicando-lhe que seu pai havia falecido num hospital do Rio de Janeiro, aos oitenta e oito anos.
Foi um choque terrível, lamentava Waldick.
Um dia marcante, o que lhe causou um profundo sentimento.
Naquela noite, na mesma hora do show, transmitiu a notícia a todos presentes, dividindo sua comoção com o público.
No outro dia, ao viajar para o Rio de Janeiro, afim de providenciar o funeral, não estava preparado para tal situação. Ao invés de vê-lo no caixão, numa cerimônia fúnebre, sua pretensão era ter para sempre a imagem viva do seu pai e a sensação de que ele estaria andando pelas ruas de Brejinho das Ametistas negociando pedras no seu estabelecimento no antigo casarão.
A Caminho do Garimpo
O entusiasmo e o tão esperado sonho que envolveu o jovem Eurípedes, de ser um dia famoso tocador de sanfona e cantor parecia ter desmoronado. Seu pai, o Sr. Tião Soriano, uma figura fechada e voz poderosa, era contra a ideia do filho.
Alegava que ele deveria seguir outro caminho: de comerciante ou de lavrador.
Puxador de fole? Nunca!
Por livre escolha deixava tudo para trás. Brejinho das Ametistas acabara de ser descartada. Iria à procura de novos horizontes.
O moço sanfoneiro Eurípedes Waldick Soriano, agora levava a sanfona apenas no coração e no peito a saudade da família.
Partiu para o garimpo, atividade tradicional da história do Brasil.
O garimpo sempre atraiu multidões de aventureiros, em busca de riqueza. No caso de Waldick, seu trabalho consistia cavar e descer num poço entre 20 e 30 metros de profundidade junto com outros. Uma atividade indiscutivelmente arriscada.
Certo dia, decidiu de uma vez por todas abandonar o garimpo e voltar para casa.
A experiência de ter ficado órfão de mãe muito cedo, lhe incentivou a enfrentar os caminhos da vida. Aprendeu as mais diversas atividades como lapidário, vaqueiro, garimpeiro, e tantas outras exercidas.
Agora estaria provando outro caminho: o de chofer de caminhão. Ser caminhoneiro e poeta ao mesmo tempo. Botou o pé na estrada, num caminhão modelo Ford 1946, do seu próprio pai. Tempos depois, buscando sempre novos desafios, deixava de lado a profissão de chofer, na qual acumulara boa experiência.
– Primeiro Contato com o Rádio
Depois de exercer o cabo de enxada, vaqueiro, amansador de “burro brabo”, puxador de carro de boi, garimpeiro, chofer de caminhão, sem contar a boa estadia em Belo Horizonte, ao cantar na Rádio Inconfidência Mineira, e ser aplaudido por todo o auditório, e obter bom resultado, num programa de calouro. Isso lhe fez regressar novamente para casa, levando consigo uma poderosa bagagem: o seu próprio talento que descobrira no estranho mundo do rádio.
Em Busca dos Sonhos
Desta vez, decidia deixar definitivamente sua terra rumo à São Paulo. As coisas do mundo jamais lhe amedrontariam – Morrer de fome jamais. Na capital paulista, depois de enfrentar os árduos caminhos, recebeu boas propostas da gravadora Chantecler, depois de gravar um disco de 78RPM, com as músicas Quem és tú e Só você. Ali se consagrava no cenário artístico, nacional. Chegou a gravar em toda a sua carreira como cantor e compositor, mais de 800 músicas, sendo 80% de sua autoria.
Corria o ano de 1968, quando o Long Play “Paixão de um Homem” era lançado e logo estourava nas paradas de sucesso.
Tratava-se do primeiro disco em que Waldick Soriano gravava com a etiqueta Continental, logo após sua saída da gravadora Copacabana. Embora quase todos os seus discos tenham atingido a marca das 200.000 mil cópias vendidas, o LP “Paixão de um Homem”, segundo ele, chegou perto de 450.000 exemplares vendidos, sem falar nos cachês de mais de 90.000 arrecadados, percorrendo o interior e quase todas as cidades brasileiras, desde o Amazonas até as pequenas cidades da parte central do Maranhão onde, em reportagem da revista Veja, deu que os índios urbanizados andavam pelas ruas com seu disco na mão.
Grandes Maestros
Uma das razões do êxito pelo qual o cantor ter alcançado grandes sucessos foi, de ter sido bem acompanhado por excelentes maestros brasileiros como Guerra Peixe, Élcio Álvarez, Pepe Ávila, Waldemiro Lenk e outros.
Grandes Compositores
Grandes compositores brasileiros também ajudaram em parceria a selar definitivamente a fama de Waldick Soriano, contribuindo assim, a carreira inconfundível do cantor.
Muitos compositores tinham o prazer de procurá-lo. Esses profissionais sabiam que suas composições estavam em boas mãos, e acreditavam terem bom aproveitamento por ele ser um cantor de projeção nacional e que valorizavam seus trabalhos, mostrando lhe a letra e música. Se Waldick gostasse, e as mesmas combinassem com seu estilo de melodia da qual exigia sua voz e seu repertório, daí ele gravava com muito prazer.
Certa ocasião, me falou que ele mesmo escolhia os títulos para suas músicas. Chegou a gravar pela Chantecler até três LPs por ano.
Um fato curioso: Caso chegasse em suas mãos uma composição com duplo sentido coisa que nunca ocorreu em sua vida artística, ele jamais consentiria. Pegava aquela composição, e jogava no lixo. Waldick chegou a compor uma música que diz: “Aquilo que não presta a gente joga fora”.
Lembrando que, Waldick além de cantor e compositor, foi ator de cinema. O seu primeiro filme “Paixão de um Homem” foi produzido pela empresa Martes Filmes Produções São Paulo e filmado na cidade de Itu, interior paulista.
O segundo e último filme “O Poderoso Garanhão” filmado na cidade de Ribeirão Bonito – SP, ambos produzidos nos anos 70, recorde de bilheteria.
Gratidão ao próximo
Acreditem…Quando Waldick visitava o Recife, geralmente hospedava-se no Hotel Quatro de Outubro, zona central da cidade e acostumava ficar sempre no mesmo apartamento do andar superior que dava acesso à Rua Floriano Peixoto. O hotel ficava justamente defronte ao presídio da Casa de Detenção, hoje Casa da Cultura.
Da janela do quarto do hotel, o artista avistava uma das alas do lado Oeste desta penitenciária, virada para o rio Capibaribe, a pouca distância do lado oposto da rua.
Durante a hospedagem, o cantor controlava o máximo do tempo para aproveitar o dia, principalmente ao findar da tarde. Esse tempinho extra, dizia ele, era hora de tirar uma soneca. Dormir um pouco mais, sentia-se descansado e bem disposto a passar uma noite mais agradável durante os shows.
Ao acordar, ia direto à janela que servia de moldura aos olhares dos fãs, e ao sol que logo declinava.
Lá, estava ele espreguiçando-se, levantando os braços e cantarolando algumas de sua músicas. Quando soltava seu vozeirão, o vento soprava indo como uma brisa em forma de música, direto ao presídio.
Daí a pouco, pelas janelas gradeadas, penetrava o som aos ouvidos dos presos, que estavam detrás do xadrez daquela unidade carcerária e, de dentro das silenciosa celas os presidiários reconheciam a voz de Waldick, e se acotovelavam para ouvirem a música.
Para aqueles detentos somente o simples cantarolar ou assobiar do artista, mesmo afastado, era o suficiente para lhes agradarem o coração. Algo puro, que vinha como expressão de sentimento. Talvez avivasse o silêncio, a inquietação deles que já estavam cansados de tanto viverem submissos às mesmas quatro paredes. Ou até mesmo enjoados de ouvirem, repetidas vezes, o triste cantar dos pardais nos galhos dos oitizeiros, envolto ao presídio, principalmente ao entardecer do dia.
À medida que Waldick cantarolava, os prisioneiros ficavam pedindo para cantar ainda mais alto. Entre si, diziam…Escuta! Escuta!
Em vez do cantor parar, ou apenas acenar para eles, não havia como negá-lo, sua voz estava ali perto. Espontaneamente começava a cantar bem alto, atendendo o pedido dos presos.
Acreditem, era comovente, um fato inédito.
O artista movido por um generoso impulso de emoção e gratidão, vinha o desejo de consolar aqueles detentos, interpretava alguma de suas lindas canções.
Isso ocorreu no início dos anos setenta, pouco depois aquela Casa de Detenção deixaria de funcionar como unidade prisional.
Embora o hotel ficando do outro lado da rua, o som chegava aos ouvidos dos presos de uma forma agradável e emocional. Por pequenas e isoladas que fossem as celas, um pouquinho daquele show que o vento soprava como notas musicais, talvez alegrasse seus corações sensíveis, românticos e sofredores. Eles certamente sentiam a mais profunda emoção. Dos compartimentos na prisão onde estavam, agradeciam e retribuíam com gritos de alegria e gratidão
Só através do Brasil
Tratando-se de viagens através do Brasil, Waldick Soriano foi considerado entre os artistas brasileiros, o que mais viajou realizando temporadas, turnês e shows em todos os recantos do país.
Num certo dia de verão de 1995, ao deixar o Hotel Quatro de Outubro em Recife, Waldick antes de entrar no meu carro um Fiat Uno sem luxo e sem ar condicionado, onde lhe levaria para o aeroporto, depara-se com um repórter do Jornal do Commércio que ia entrevista lo, mas chegara atrasado. Como já estava em cima da hora do artista embarcar, decentemente concedeu-lhe ligeira entrevista ali mesmo, na calçada do Hotel.
Naquela rápida entrevista o jornalista pergunta ao cantor.“ – Waldick porque você ainda não fez shows ou uma turnê em outros países a exemplo da Europa, ou até mesmo da America do Sul? É muito comum artistas saírem do Brasil para realizarem shows fora do Brasil”.
Depois de ouvir em meio ao barulho do transito a pergunta do jornalista, responde:
“ – Por enquanto, meu caro jornalista, ainda não tive essa idéia, embora eu tenha visitado apenas a Colômbia e Bolívia, nunca passou por minha mente o de me apresentar fora do Brasil. Gosto demais desse povo maravilhoso, acho que antes de sair do meu país, é preciso conhecer todo o território nacional”.
Aqui é um continente. Ainda tem muito chão pela frente, muitos lugares a visitar, e me consideraria um mau brasileiro sem antes de conhecer meu pais, viajasse para outros países”.
“ – Minha escolha sempre foi percorrer o Brasil de ponta a ponta, sentir o calor dos meus irmãos patriotas onde sou querido e tenho meu público fiel e definido!”
Erraram seu nome
Todos nós cometemos engano. Afinal errar é humano, diz o antigo ditado. Mas há quem diga, aceita-se até um determinado grau de tolerância.
Para tirar tal dúvida, da qual só o cantor poderia responder, pedi a ele que escrevesse seu nome correto. Ele me olhou, riu, e simplesmente prontificou-se…Escreveu seu nome: “Waldick”. Logo depois, me perguntou:
“ – E daí, o que é que tem haver meu nome, ô Tércio?”
Como se tudo não bastasse, retruquei:
“ – Olha, Waldick, nunca fui um detalhista, mas “o negócio é o seguinte”:
“ – Sei que minha opinião pouco vale no que vou abordar, até porque não é minha área, mas de qualquer maneira vale a pena comentar. Apesar das capas dos seus discos serem bem elaboradas e produzidas por equipe especializada em Lay-out. Creio que há muito tempo há algo de errado referente à forma ortográfica como escrevem o teu nome em algumas capas dos discos, o que deve ser observada”. Enfático exclamou:
“ – Pôxa, como assim? É a primeira vez que ouço uma observação dessa natureza!”
“ – Por exemplo… Em uma das capas o nome “Waldick” vem escrito com “V”, a exemplo do Long Play Novamente o Elegante Waldick gravado em 1964, contendo a música Prece ao Amor. Em algumas, vem com “CK”e outras apenas com “K”. O que significa isso? Não é uma crítica, mas apenas curiosidade!”
Quando concluí meu ponto de vista, ele balançou a cabeça e não se fez de surpreso, nem deu bola. Quis mudar de assunto, também não perguntei mais.
A seguir, ele respondeu:
“ – Francamente, Tércio, por incrível que pareça, eu nunca entendi esse motivo, nunca dei ênfase para esse detalhe. De qualquer maneira, vou verificar a verdadeira razão pela qual meu nome sai impresso nas capas dos discos com essas diferenças. Pois meu nome de batismo é escrito com “CK” no final, e não com “K”. É uma boa, vou verificar tal curiosidade”.
Num certo dia qualquer, por coincidência mostrei -lhe as capas, só para que ele tirasse suas conclusões, cujos discos eram:
- “Waldick Soriano O Supremo Rei do Bolero, com etiqueta RCA p/ 1977” – Waldick Soriano com (CK);
- “O Garimpeiro com selo Copacabana, p/ 1986” – Waldick Soriano com (CK);
- E “Cantando para quem Ama”, com selo Copacabana p/ 1988 – Waldick Soriano com (CK). E outras capas apenas com “K”
Não havia motivo, e como não bastasse, seu nome era escrito errado, até nas páginas de grandes jornais brasileiros. Para isso, em jornais existem os revisores, um trabalho que consiste esses profissionais da área revisarem e corrigirem textos e seus conteúdos.
Botão do paletó.
Poucos os cantores que depois do término de um show, descem as escadas do palco e se juntam entre os fãs.
Trata-se de uma prática quase não utilizada em sua maioria pelos artistas, até mesmo por medida de segurança. Em geral, esses personagens se dirigem-se para um camarim, onde é esperado pela equipe que o acompanha.
Para Waldick Soriano, era muito comum essa atitude e impossível de não ser arrastado pelo público, transformando sua saída do espetáculo, em festa de despedida. Muita gente lhe acompanhava até o automóvel que o aguardava, em frente à casa de espetáculo, levando-o ao hotel e, na ânsia de obter um autógrafo, arrancar-lhe um botão do seu paletó. Segundo se tem notícia, os fãs arrancavam bruscamente e levavam-no para casa, como um souvenir, objeto que resgata a memória. Isso fazia com que em certas ocasiões, o artista comentar sentindo a falta de um botão no seu paletó.
Era estranho, se isso eu não tivesse visto, nunca acreditaria que um fã pudesse cometer uma coisa dessa natureza.
Certo domingo á noite, ao levar em meu carro o Waldick do Grande Hotel em Recife, para o restaurante Nelore, na zona sul do Recife, para realizar um show. No hotel, lá estava um de seus compositores, o nobre amigo Hartiz Artoni, autor da música “Vai trabalhar mulher”. Um contador de anedotas, brincalhão, Hartz estava zombando da cara do Waldick porque o cantor mesmo de óculos, tentava com a maior dificuldade, enfiar a linha no fundo de uma agulha para pregar o botão do seu paletó.
“ – Quando acomodei-me fui logo entrando na brincadeira também, e disse:
“ – Waldick, você agora virou costureiro?” Ele riu, balançou a cabeça e disse:
“ – É um saco fazer isso. Um serviço para a bruaca da camareira do hotel, mas infelizmente ela não apareceu, portanto eu mesmo vou encarar essa guerra”.
“ – Ô Waldick, como os fãs conseguem arrancar o botão do teu paletó?” – indaguei-lhe… E ele me respondeu:
“ – Muitas vezes, a distância que separava o hotel até à casa de espetáculo era pequena e acabava indo a pé, para satisfazer a vontade dos meus fãs. E, naquele empurra-empurra, a pessoa puxa o botão sem que a gente possa perceber”.
Era uma maneira de Waldick retribuir seu carinho ao público, aquelas pessoas que tanto o admirava.
Criolo seu cão de estimação
Todos nós deveríamos ser dono de um cão de estimação. É o único animal fiel ao homem a conviver com a raça humana” – dizia Waldick.
“ – O meu, por exemplo, era o “Criolo” (expressão usada por ele), pêlos pretos que brilhavam como prata”.
“ – Ficava deitado lá em casa no meio da sala. Quando eu chegava de volta das viagens se atirava em meus braços, forçando-me a deitar com ele numa poltrona. Confesso que meu cachorro, em dados momentos, transformava meus problemas em alegria. Ele ficava observando atentamente os meus passos, vinha me lamber para mostrar-me quanto tudo era motivo de carinho”.
“ – Ao arrumar as malas, para minhas viagens rotineiras, o Criolo colocava o focinho entre as patas e lançava um olhar melancólico em minha direção” – recordava o artista.
Avenida Waldick Soriano
Avenida Waldick Soriano, via pública denominada numa das principais artérias do centro da cidade de Caetité, estado da Bahia, terra natal do artista. No dia 15 de maio de 1995, três dias depois do seu aniversário, quando completava 62 anos, a Câmara Municipal desta cidade, no uso de suas atribuições legais, fazia saber que a Câmara Municipal, em sessão ordinária realizada aprovava e promulgava o seguinte teor:
O Artigo 1º – Passava a denominar de Avenida Waldick Soriano, o trecho já considerado zona urbana, com início na Praça Tancredo Neves em direção a Rodoviária Caetité – Brumado.
O Artigo 2º – Diz, este Decreto Legislativo, entrava em vigor na data de sua publicação revogadas as disposições em contrário. Assinavam o presidente da Mesa da Câmara Municipal de Caetité João Fernandes de Carvalho e Edilson Batista de Souza, 1º Secretário.
A Câmara de Vereadores do Município de Caetité, no Estado da Bahia, justificava que: Waldick Soriano nascido naquele município, desde criança despertou-se para a música e a poesia. Na década de 1950 incentivado pelos amigos e pela sua própria vontade de vencer, deslocou-se para o sul do país, levando consigo muita esperança e sua famosa sanfona de oito baixos.
Depois de muita luta e muito sacrifício, e graças ao seu talento de poeta conseguiu ver suas músicas brilharem nas paradas de sucessos, tornando-se ao lado de cantores famosos como: Nelson Gonçalves, Roberto Carlos, Agnaldo Timóteo e outros, grandes ídolos brasileiros.
Waldick Soriano em todas as oportunidades nunca omitiu suas origens de sertanejo nascido no Município de Caetité, onde por muito tempo trabalhou no garimpo de pedras ametistas no distrito de Brejinho das Ametistas, onde nasceu.
Pelo exposto, esperava que esta casa, acolhesse o citado projeto, homenageando daquela forma, um dos mais ilustres e importantes filhos de Caetité que tão bem representava a cultura desta terra pelo Brasil.
Rua Cantor Waldick Soriano
O endereço citado, Rua Cantor Waldick Soriano, localiza-se no bairro Tupiry, área nobre da cidade de Praia Grande, Região Metropolitana da Baixada Santista, no estado de São Paulo. A cidade tem uma população de acordo com o senso do IBGE para 2018, de 319.146 habitantes, sendo a terceira cidade mais populosa do litoral paulista. Eurípedes Waldick Soriano nasceu no dia 13 de maio de 1933 e faleceu no dia o4 de setembro de 2008, no Rio de Janeiro.
Participação especial nas informações do Texto, Rômulo Anísio Teixeira – Caetité – Bahia
Eis as fotos em ordem:
1º Casarão em Brejinho das Ametistas, onde o pai de Waldick tinha um comercio de pedras preciosas
2º Waldick ainda bem jovem no inicio da carreira-anos de 1960
3º Pai de Waldick Soriano, Sr Sebastião Soriano mais conhecido por Tião Soriano, ao 80 anos
4º Dona Eudoxia ao lado do menino Eurípedes, aos 11 anos
5º Casa já descaracterizada, onde nasceu Waldick em Brejinho das Ametistas
6º No inicio da carreira, antes do Show, Waldick sempre treinava a voz, ao lado do seu acordeonista
7º Waldick durante um show em São Paulo-anos 70
8º Embalagem assinada por Waldick, contendo CDs para encaminhar ao Jaime Lins em Parnaíba- anos 90
9º Waldick segura as patas do seu estimado cão o criolo
10º 1º disco de Waldick,lado “A e lado”B”
11º Até as páginas dos jornais erravam seu nome em vez de “W” escreviam “V”
12º Como não bastasse até a capa do disco escreviam com “V” ao invés de “W”
13º Da sacada do Hote, Waldick cantava para os presos, num ato de gratidão.