F. Carvalho*
Não há muito que ser feito.
As redes sociais foram tomadas pelos “especialistas em tudo”. Mais que isso: essa legião de palpiteiros é o que mais tem contribuído para a deformidade que está se tornando o Brasil em termos de concepções políticas e ideológicas. Mas, por serem legítimas manifestações do democrático direito de expressão, que sejam respeitados, embora submetidos ao não menos democrático crivo das críticas.
Hoje, vi um daqueles comentários muito bem elaborados, cirurgicamente redigidos e que parecem ser o suprassumo da verdade sobre o que seria e o que não seria golpe contra o mandato da presidente Dilma. Mas, embora as palavras fossem bem alinhavadas e parecessem precisas, as premissas não soavam verdadeiras.
Dizia o escriba que o fato da presidente Dilma ir pessoalmente ao Congresso fazer sua defesa desmoralizava a tese de golpe. “Que golpe?”, perguntou!
Ora, a defesa de Dilma no Congresso tem que ser feita por um compromisso histórico e em nome do respeito aos julgadores, ou mesmo para que não prospere eventual tese de confissão ficta. Até porque do ponto de vista formal há um processo regular, sim. O que não garante que o julgamento final seja justo, conforme as provas dos autos e respeitando-se os critérios de equidade.
Por tudo que já se viu até hoje, não se espera que os argumentos da presidente afastada e as teses jurídicas do seu advogado, que já seriam capazes de desmantelar todo o impeachment, sejam sopesados pelos já (mal) intencionados parlamentares julgadores. Quem é a favor do impeachment, assim se posiciona de forma deliberada, nada se importando com as questões de mérito.
Não se trata de um julgamento justo, mas de uma escolha cínica alimentada por essa disputa de poder, esse jogo sujo de interesses que se arrasta desde os palanques, para conseguirem o que não conseguiram nas urnas: derrotar Dilma.
Mas, eu acredito que o julgamento da história há de colocar os atores desta ópera-bufa nos seus devidos lugares.
Os erros da gestão Dilma Rousseff serão evidenciados, empilhados num dos pratos da balança, e o boicote criminoso contra seu governo também há ser lembrado, e acomodado do outro lado, para o julgamento implacável da história.
* F, Carvalho – jornalista e bacharelando em Direito, aprovado na OAB.